sexta-feira, 2 de abril de 2010

Casamento à Mineira

Não sei quem estava mais feliz, se era o casal, os pais ou os convidados. Transcendeu à normalidade”

Será que casamento mineiro é diferente de outros casamentos? Sim, é diferente. Neste fim de semana participei de um com todas as características das nossas Minas Gerais. O povo da cidade de Carmo do Paranaíba tem resistido ao tempo.



Carmo, com 30 mil habitantes, grande produtora de café de boa qualidade, bem projetada, com boa infraestrutura urbana, o melhor clima para se viver.  Mas não está na economia a sua maior riqueza, está nos princípios e nos valores da sua gente: a cidade é uma única família, não aceitam cobrança, desaforo ainda não se leva para casa, compadre é mais que parente. Estranho não pode falar da família, amigo de alguém da minha família é amigo de todos. Quem chega de fora e não respeita estes valores, não é excluído, apenas não é incluído. Parece ser a mesma coisa, mas não é. A inclusão é uma opção de quem chega, a comunidade é aberta, mas não abre mão de seus valores.

Outros valores são cultivados para contribuir com a melhor integração das pessoas; os títulos e o dinheiro têm valor relativo, não são o mais importante, o que predomina são as afinidades construídas pela convivência. São passadas de geração a geração. As amizades nesta comunidade ultrapassam várias gerações e são cultivadas, fazem parte do patrimônio das famílias, às vezes, mais importantes do que herança material. A família é lembrada em qualquer assunto como elo para resgatar uma convivência e fortalecer as raízes que se entrelaçam, indiferentemente da condição econômica.

Foi nesta comunidade que aconteceu o casamento, realizado em uma fazenda, aliás, em uma maravilhosa fazenda. A festa durou nove horas, música ao vivo, e o cantar dos convidados sobrepunha-se ao dos músicos. Pessoas de todas as idades conversando, rindo e cantando. Não sei quem estava mais feliz, se era o casal, os pais ou os convidados, transcendeu a normalidade. Todos se sentiram donos da festa, o amor da família foi compartilhado com os presentes, um momento criado pela bondade, quem participou saiu energizado, de bem com a vida.

Outro fato não menos importante foi a elegância, a decoração da festa, em uma fazenda centenária à beira de um lago, às 11 horas, homens e mulheres com traje a rigor, cumprindo o ritual de festa de uma corte, com classe, aliada a um ambiente de descontração, respeito e admiração. Momentos inesquecíveis aconteceram porque quem organizou e participou está inserido em um processo histórico que tem sido preservado ao longo dos tempos.

Todos temos nossos lugares, nossas raízes, nossas crenças, nossas amizades, nossos valores, os mineiros têm muito que contar e preservar, mas é necessário que haja pessoas como as desta história que queiram fazer um resgate das tradições e fortalecer a esperança.

Podemos dizer que a família, os noivos, realizaram não apenas os seus sonhos, mas de todos os que participaram. Todos saíram comprometidos e com a missão de ampliar os momentos vivenciados. O amor, quando compartilhado, torna cada um formador do todo e não apenas parte de um acontecimento.

E assim os mineiros vão se globalizando, mas de seu jeito, falando a seu modo e conservando os seus valores, cuja base é a família.

Autor:
Hélio Mendes
Prof. de Estratégia e Gestão
latino@institutolatino.com.br

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